Repetição e Redundância Na Fotografia: O Ritmo e o Transbordamento do Olhar
- Angela Rosana
- 16 de fev.
- 3 min de leitura
Há um ponto onde a repetição se esgota e se transforma em redundância? Ou será que, em essência, tudo o que fazemos não passa de um exercício contínuo de repetir-nos? O que significa refazer, reiterar, reproduzir? Se a história se repete, se os dias se encadeiam em um ciclo contínuo de nascer e pôr do sol, se o coração insiste em bater no mesmo compasso, então, onde termina o repetir e começa o exacerbar? E mais: é possível que a redundância tenha um propósito? Ou seria ela apenas um eco sem sentido, um reflexo que perdeu sua origem?
A fotografia é, por natureza, um jogo de repetições. Entre as muitas interpretações possíveis, há quem veja o ato de capturar uma imagem como a cristalização de um instante dentro de uma sequência infinita de momentos similares. Nesse olhar, a fotografia se tornaria a fixação de algo que, de outra forma, se dissolveria no tempo. Quando um fotógrafo escolhe um enquadramento, muitas vezes está em busca de padrões, ritmos, simetrias – estruturas visuais que o mundo oferece em seu eterno jogo de repetições. Mas nem toda repetição é igual. Algumas são rituais, outras são vícios. Algumas dão sentido, enquanto outras parecem se esvaziar, embora mesmo o vazio possa ser um elemento expressivo. O vazio na arte, na filosofia e na fotografia não é necessariamente ausência, mas um espaço de ressignificação, um respiro onde o olhar se encontra consigo mesmo.
O olhar humano se cansa diante do excesso. Quando a repetição se torna previsível, ela perde sua força, tornando-se ruído, uma ressonância de algo que já foi dito de maneira mais expressiva. No entanto, quando é usada com intenção, quando um padrão é interrompido no momento certo, quando a simetria se desdobra em algo novo, então essa repetição transcende e se torna discurso. O arquétipo da repetição está presente desde a simetria no rosto humano até a disposição dos astros no céu, desde a música que pulsa ritmicamente até as formas que se multiplicam em padrões visuais. A imagem espelhada, a ilusão óptica, o reflexo que insinua algo além do que está visível – tudo isso é manifestação dessa recorrência que nos intriga. Mas o que diferencia a repetição que entedia da que emociona?
A fotografia, por meio de sua natureza fragmentária, desafia essa questão. Quando observamos um reflexo na água, estamos diante de uma réplica ou de uma nova imagem, alterada pela distorção? Quando nos deparamos com uma sucessão de formas idênticas que se espalham até o horizonte, nossa percepção busca as diferenças, por menores que sejam, ou se entrega à hipnose do padrão? O que acontece quando a repetição é subvertida? Quando a simetria se desfaz? Quando o padrão é interrompido?
Talvez a redundância seja o colapso da repetição, uma falta de variação dentro dela. No instante em que um padrão se torna previsível demais, ele se esgota – e esse esgotamento pode ser um elemento artístico em si. O trabalho do artista, do fotógrafo, do pensador, é manipular a repetição e a diferença, decidir quando ecoar e quando romper, quando dar continuidade e quando surpreender.
O que vemos quando olhamos duas vezes para a mesma imagem? O que acontece quando algo se repete até perder seu significado?
E se a redundância, ao invés de ser um erro, for uma escolha? Um ruído que persiste até se transformar em melodia? Se uma reprodução contínua for nossa condição, talvez a redundância seja nossa única liberdade. A questão, portanto, possa não ser evitar a repetição, mas escolher como nos movermos dentro dela.
Escrito por Angela Rosana, saiba mais sobre mim aqui.
Conheça meu trabalho autoral aqui.
Todas as imagens foram cedidas.
Os créditos aos fotógrafos constam nas imagens, com links para os respectivos perfis no Instagram. Conheça mais o trabalho de cada um!
Se você gostou desse artigo, deixe sua avaliação ao final da página!
Leia outros artigos aqui
Visite nosso Instagram
Publicação das fotos no Instagram em fevereiro de 2025.
Commentaires