top of page

Fiat Fluxus (?)

Atualizado: 8 de jul.

imagem p&b silhueta pessoa braços abertos segundo plano mao aberta
Imagem cedida por Alexandre Vianna 🇧🇷

E se o que chamamos de acaso fosse apenas a forma mais crível do que não entendemos? Há lampejos que irrompem de uma falha no tempo, um breve esquecimento da ordem, quando a realidade se dobra sobre si mesma e algo emerge, quase imperceptível, carregado de uma densidade antiga. Às vezes, confundimos essas irrupções com erros, com irrelevâncias, como se a vida só pudesse caber nas formas previsíveis que aprendemos a nomear. No entanto, é nesses espaços — nesses descompassos sutis, nessas brincadeiras impróprias com o sentido — que se escondem as forças mais subversivas da criação. E talvez seja preciso reaprender a ver, a mover-se no fluxo, a escutar o que nunca pediu para ser dito, para então reconhecer o que, de tão livre, quase passa despercebido.


Figura em movimento borrado diante de porta, com traço de luz branca desenhando curva no ar — fotografia de Margot Barcelos
Imagem cedida por Margot Costa 🇧🇷

Tudo o que escapa carrega um rumor de início. Não exige olhos atentos: exige olhos disponíveis. Quando a matéria fraqueja e o tempo se desfaz em silêncio, algo, sem pressa, acontece. Não é preciso nomear. Não é preciso entender. Algumas coisas só se tornam visíveis quando desistimos de persegui-las. Talvez a realidade, em seus momentos mais exatos, prefira o que se desfaz ao que se fixa, o que se insinua ao que se impõe.


Fotografia em preto e branco de close no rosto de uma mulher com os dedos diante do olho, segurando uma pequena esfera translúcida — imagem de alta luz, com linhas desenhadas na pele, entre o ver e o ocultar.
Imagem cedida por Spo Insta 🇧🇷

Há presenças que se recusam a ser contidas. Existem em estado de quase, de quase ser, de quase dizer. Às vezes, tudo o que se pode fazer diante delas é simplesmente permanecer. Foi esse impulso — ou essa recusa de fixar — que moveu artistas como os do Movimento Fluxus, nos anos 60. Não lhes interessava a obra acabada, mas o movimento que escorria entre as mãos, o instante em que o sentido se desfazia antes mesmo de se firmar. Interrupções quase imperceptíveis: um rasgo na ordem habitual das coisas, uma instrução inútil deixada no meio da rua, um objeto esquecido onde não devia estar. Não se tratava de construir algo novo, mas de enfraquecer o que parecia definitivo. Apenas a fissura mínima por onde outra realidade começava a respirar. Um copo vazio esquecido na mesa. Uma folha levada pelo vento.


Fotografia em preto e branco de María Tudela Bermúdez, com campo de espigas altas ondulando sob céu nublado e difuso — atmosfera de névoa, silêncio e leveza em suspensão.
Imagem cedida por Maria Tudela 🇪🇸

Há uma beleza particular nas coisas que se recusam a ser inteiras. No que vacila. No que se fragmenta antes de se afirmar. Talvez porque a vida também se componha assim: não de certezas, mas de aproximações. Não de verdades fixas, mas de desvios que contornam o que não se deixa tocar. Há quem insista em capturar, em nomear, em fixar. Mas há também quem prefira o contrário: deixar escapar. Não definir, mas abrir espaço para o que ainda não é. E talvez seja aí — nesse quase nada que insiste — que algo realmente aconteça.


Fotografia em preto e branco de Prashant Godbole com mulher de cabelos ao vento, cabeça inclinada para o céu, cercada por pássaros em voo — imagem de leveza, fluxo e desvio.
Imagem cedida por Prashant Godbole 🇮🇳

Escrito por Angela Rosana,  saiba mais sobre mim aqui.  

Conheça meu trabalho autoral aqui


Todas as imagens foram cedidas.

Os créditos aos fotógrafos constam nas imagens, com links para os respectivos perfis no Instagram. Conheça mais o trabalho de cada um!


Se você gostou desse artigo, deixe sua avaliação ao final da página!


Leia outros artigos aqui

Visite o Instagram


Publicação das fotos no Instagram a partir de abril de 2025.


 
 
 

1 Comment

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
Rated 5 out of 5 stars.

Linda fotografia da Margot Costa!

Like
bottom of page