O Punctum: um Subterfúgio do Invisível
- Angela Rosana
- 31 de out. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de fev. de 2024
O punctum é o elemento que transforma a visão de uma imagem em uma experiência sensorial e emocional. No seu livro "A Câmara Clara", o filósofo Roland Barthes cunhou este termo para descrever aquilo que nos fura, nos toca de forma inexplicável quando olhamos para uma fotografia. O punctum transita nas bordas do indizível, e, evasivo, vai além da técnica ou composição, penetra nosso íntimo e perfura as camadas da nossa humanidade.
Ao olhar para uma fotografia, você pode sentir o punctum. Ele é sutil, quase imperceptível, mas profundamente poderoso. Essa potência é que nos envolve, reconfigurando nossa visão da realidade posta e infundindo à imagem uma complexidade emocional que a torna inescapavelmente magnética.
A experiência do punctum é pessoal e subjetiva. O que fura a alma de um pode não ter o mesmo efeito em outro. O olhar de uma criança, o detalhe de uma textura, a forma como a luz incide sobre um objeto; essas nuances podem servir como o elemento que imortaliza a fotografia em nosso ser. Ele nos chama para além da superfície, para sondarmos as profundezas da experiência que uma imagem pode incorporar.
Mas encontrar e incorporar punctum em uma fotografia é um ato de acuidade e intuição. Não é algo que se planeje ou force, pois trata-se de um elemento que ocorre mais no reino da percepção e da reação emocional do observador do que na intenção deliberada do fotógrafo. Enquanto um fotógrafo pode aspirar a criar uma obra que tenha o potencial para evocar um punctum, a eficácia dessa intenção só pode ser confirmada pela experiência individual de quem vê a imagem.
Ao buscar conscientemente criar um "efeito perfurante", o fotógrafo pode inadvertidamente desviar-se para o reino do clichê ou da manipulação emocional, o que poderia funcionar para alguns, mas talvez não tenha o resultado desejado de um punctum verdadeiramente penetrante e universal.
A presença ou ausência de punctum pode também ser o fator decisivo na longevidade de uma obra fotográfica. As imagens que contêm essa qualidade misteriosa tendem a ser aquelas que permanecem conosco, que voltam às nossas mentes e que continuam a nos afetar, independentemente do tempo ou do lugar. Elas se tornam, em sua própria forma silenciosa, ícones de nossa experiência coletiva, pontes entre o pessoal e o universal.
O punctum, então, pode ser visto como provocação e também como proposta. Ele desafia os fotógrafos a irem além da técnica e entrarem no reino do emocional, do intuitivo e até mesmo do espiritual. E ele nos convoca, como observadores, a engajar com a fotografia de uma forma mais profunda e significativa. Podemos, assim, começar a entender a fotografia para além de uma representação do mundo, numa linguagem que fala diretamente ao coração.
Em uma busca universal por tocar e ser tocado, nós encontramos no punctum uma forma de verdade que supera a articulação visual e que pode ser realmente sentida. É a magia de um fenômeno que, uma vez experimentado, inaugura em nós um novo paradigma de compreensão, enriquecendo e ampliando nossas fronteiras sensoriais.
Escrito por Angela Rosana, saiba mais sobre mim aqui.
Os créditos aos fotógrafos constam nas imagens, com links para os respectivos perfis no Instagram. Conheça mais o trabalho de cada um!
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Publicação no Instagram em novembro 2023